Ana Bénard da Costa, Margarida Lima de Faria, eds. Ensino Superior e Desenvolvimento. Lisbon: Almedina, 2013. 276 pp. EUR 18.00 (paper), ISBN 978-972-40-5112-3.
Reviewed by Antonia Barreto (Instituto Politecnico de Leiria)
Published on H-Luso-Africa (September, 2013)
Commissioned by Philip J. Havik (Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT))
Este livro organizado por Ana Bénard da Costa e Margarida Lima de Faria é o resultado de um projeto de investigação financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e que decorreu entre 2009 e 2012. Compõe-se de vários textos, com uma vasta informação quantitativa e qualitativa. O livro está dividido em duas partes e oito capítulos: a primeira contém textos de natureza globalizante que analisam a cooperação portuguesa com os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) ao nível do ensino superior (Bénard da Costa), as mudanças recentes no ensino superior em Angola (Paulo de Carvalho) e a necessidade de uma abordagem transnacional no ensino superior em Moçambique (Francisco Noa). A segunda parte reúne vários estudos de caso, orientados em dois eixos: o da formação de estudantes dos PALOP em Portugal, incluindo estudantes moçambicanos (Bénard da Costa e Eleonora Rocha), os estudantes angolanos (Lima de Faria e Ermelinda Liberato) os estudantes cabo-verdianos e são-tomenses (Gerhard Seibert). A segunda parte baseia-se no eixo do impacto da formação superior obtida em Portugal nos percursos de estudantes angolanos (Carlos Lopes) e da formação superior na mobilidade social na Guiné-Bissau (Tcherno Djalo).
Os textos de reflexão teórica e os estudos de caso podem ser sistematizados segundo quatro binómios. O primeiro binómio designamos por ensino superior-pessoa: os estudantes, com um perfil heterogéneo, começaram por ser provenientes de famílias com tradição no investimento académico dos seus descendentes (os herdeiros), no período pós independência dos PALOP incidiu nos beneficiários de medidas politicas (bolseiros); nos anos recentes e atualmente predominam os novos estudantes custeados pelas famílias que tem na formação superior em Portugal expectativas de promoção social, profissional e pessoal. As redes de apoio académico são praticamente inexistentes, as dificuldades económicas e académicas são bastantes, mas a estadia em Portugal é considerada globalmente positiva pelos antigos e atuais estudantes e é bastante mais valorizada face a formação feita no país.
O segundo binómio designamos por ensino superior-país de regresso. Assiste-se ao crescimento intensivo do ensino superior em Cabo Verde, Angola e Moçambique, o que faz alterar a tipologia da procura de formação em Portugal. Apesar de se colocarem muitas questões no âmbito da qualidade, todos reconhecem o contributo do ensino superior para o desenvolvimento do país, considerando-o uma das estratégias para a diminuição da pobreza, para a introdução da inovação tecnológica, para a aprendizagem da cidadania. Existe uma relação positiva entre o investimento no ensino superior e o índice de desenvolvimento humano.
Chamamos ao terceiro binómio ensino superior-Portugal polo atrativo: para os estudantes dos PALOP, Portugal, foi e continua a ser, muito apelativo para realizarem a formação superior. No entanto consideram que não beneficiaram de enquadramento institucional especifica e tiveram que realizar árduos percursos pessoais de adaptação, assentes apenas em redes pessoais. A política oficial portuguesa de concessão de bolsas tem tido alterações: hoje as bolsas incidem em mestrados e doutoramentos, atribuindo-se bolsas internas nos países de residência para a obtenção de licenciaturas. Constata-se, ao longo dos anos, disparidades por país nas verbas atribuídas por Portugal e oscilação nos montantes. Não existe uma estratégia clara da cooperação portuguesa no apoio ao ensino superior, daí a dificuldade na sua avaliação. Reconhece-se a potencialidade desta área da cooperação a nível cultural, cientifico, social e económico.
O quarto binómio designamos por ensino superior-desenvolvimento. Reconhece-se o contributo da formação superior para o desenvolvimento, mas para que tal aconteça têm que ser cumpridos vários requisitos, entre eles a existência de investimento, a implementação de uma gestão de qualidade, a realização de investigação, a integração em redes académicas e a substituição da reprodução do conhecimento pela aplicação do conhecimento. Segundo Noa: ”Ao ensino superior, pela historia que o envolve, pelas responsabilidades que se lhe exigem, pela sua própria natureza enquanto fator de transformação, de atualização e de inovação, cabe-lhe estar na vanguarda de significação do mundo enquanto plataforma de dimensões múltiplas, diversificadas e interactuantes” (pp. 83-84). Isto implica a substituição de uma visão internacional do ensino superior por uma visão transnacional: o ensino superior deve abrir-se ao mundo e assumir a sua centralidade.
A obra em análise é um contributo fundamental para o estudo do ensino superior recente nos PALOP e para o conhecimento aprofundado da evolução da cooperação portuguesa no âmbito deste nível de ensino.
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Citation:
Antonia Barreto. Review of Bénard da Costa, Ana; Lima de Faria, Margarida, eds., Ensino Superior e Desenvolvimento.
H-Luso-Africa, H-Net Reviews.
September, 2013.
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